O
excepcional talento musical de Schubert foi
um dos motivos que motivaram as pessoas a serem
atraídas para ele. Um outro motivo eram a simpatia
e cordialidade espontâneas. A família Schubert
não era abastada, mas a condição modesta não
impediu o músico de criar à sua volta, um amplo
círculo de amigos. O compositor foi capaz de
fazer essas amizades, porque na época, estavam a
desaparecer as diferenças entre classes, quer na
Alemanha, quer na Áustria. Nascia uma nova
classe média e, as pessoas eram apreciadas mais
pelo seu valor individual do que pelo estatuto
social. Com o seu precoce talento musical,
Schubert cedo atraiu a atenção dos artistas
maioritariamente pertencentes à nova e recente
classe média que emergia, de gente endinheirada.
Um
dos primeiros amigos que se manteve leal, foi
Josef von Spaun, entusiasta apreciador de música,
que conheceu Schubert ainda no colégio e que até
incentivou o desenvolvimento musical do jovem
estudante, levando-o a actividades relacionadas,
como a ópera e organizando concertos para que o
autor pudesse estrear algumas das suas primeiras
obras.
Através
de Spaun, Schubert cedo se viu rodeado por um
amplo círculo de amigos artistas, jovens educados
e com talento, que representavam o melhor da intelligentzia
liberal de Viena. Muitos deles vieram a ser
pintores, escritores ou poetas destacados, como é
o caso do poeta Johann Mayrhofer, também este, um
dos seus primeiros amigos. Apesar de Mayrhofer ser
um poeta um pouco melancólico, os seus poemas
inspiraram Schubert na composição de alguns lieder.
Em
finais de 1816, Schubert abandonou a casa onde
residia com os amigos colegiais, e foi viver para
a cómoda mansão da endinheirada mãe de Schober
(amigo colegial com quem Schubert frequentava
tertúlias musicais em casas particulares). Aqui
tinha mais liberdade para compor e pôde conhecer
o famoso cantor Johann Michael Vogl, que cedo
reconheceu o génio de Schubert. Pouco tempo
depois, Vogl tornou-se um dos seus amigos e
promotor interpretando as canções de Schubert em
numerosos recitais em Viena.
As
férias de verão de 1819 representam um período
feliz na vida de Schubert. Na casa de Vogl, na
cidade de Steyr, na planície pitoresca a oeste de
Viena, foram as suas primeiras férias
descontraídas e muito produtivas. No ano de 1821,
o pintor Leopold Kupelwierser e outro magnífico
pintor, o barão von Schönstein, começaram a
participar no seu círculo de amigos.
Correspondendo a esta lealdade, Schubert compunha
canções, usando frequentemente poemas destes, e
peças para serem interpretadas em saraus
literários e musicais improvisados. Estes serões
passaram a ser conhecidos por «Schubertíadas».
Os
seu amigos, por outro lado ajudavam Schubert a
promover a sua obra, publicando alguns lieder
vendendo-os por subscrição. Com o dinheiro
obtido, pagavam-lhe as dívidas, deixando-lhe uma
pequena reserva para viver. O problema, é que
Schubert, impulsivo e muito generoso, não era
dotado para cuidar das suas economias e durante
grande parte da sua vida, necessitou de ajuda
financeira. Nos
anos de 1822 a 1823, uma doença grave, com origem
sifilítica marcou a sua atitude para com os
outros. Tornou-se indelicado, e em certas
ocasiões até ofendeu publicamente velhos amigos,
como por exemplo Schober e Vogl. Compreende-se que
as dores afectassem o seu temperamento, mas de
qualquer forma, nesse verão de 1823 as
relações com os seus amigos íntimos foram
gravemente afectadas. Depois de 1824, o seu
círculo inicial de amizades começou a
desfazer-se, quando os seus amigos começaram a
afastar-se de Viena, por motivos pessoais e
profissionais. Claro que novos amigos vieram
substituir os ausentes. Entre eles o pintor Moritz
von Schwind, que Schubert conhecera em 1821. Entretanto
em 1828, o velho círculo de amigos de schubert,
voltou a reunir-se em Viena durante um breve
período. Schober recomeçou as tertúlias
artísticas. Em Março, amigos e admiradores
ajudaram Schubert a organizar um concerto, a
primeira grande execução pública de obras
exclusivamente do compositor. Mas a saúde do
compositor piorou, ficando confinado ao leito em
casa do seu irmão Ferdinand. Em Novembro, Spaun e
Bauernfeld foram os últimos amigos que o
visitaram antes de falecer. Não tinha ainda
completado 32 anos de idade. A
sua morte prematura, foi retractada pelos amigos
em cartas, diários e poemas, sendo erigido um
monumento em sua homenagem com a inscrição: «A
arte da música sepultou aqui um grande valor e,
sobretudo as mais prometedoras esperanças». |