Durante
quase trinta anos Franz Joseph Haydn foi músico
de corte e compositor do príncipe húngaro
Nicholas Esterházy, até à morte deste, em 1790.
O seu filho e sucessor, príncipe Paul Anton, não
se interessava tanto pela música como seu pai.
Apesar disso, manteve Haydn ao seu serviço por
questões de cortesia. Haydn usufruía então de
uma agradável situação económica, visto que
tinha liberdade para aceitar encomendas e
convites, incluindo os que o obrigavam a
viajar.
Naquela
época, Haydn era o mais famoso dos compositores
vivos e rapidamente se viu alvo de convites e de
encomendas de obras. Uma das pessoas que maior
interesse mostrava por ele, era o alemão Johann
Peter Salomon, que se estabelecera em Londres como
violinista e empresário de concertos. Salomon
apressou-se a deslocar-se a Viena e convidou Haydn
a visitar a capital inglesa. As condições
do convite, que incluíam encomendas de sinfonias
e de outras obras, eram muito generosas. Hydn
aceitou e, em Dezembro de 1790, partiu para a
capital inglesa com Salomon. No dia de Natal,
fizeram uma paragem em Bona, onde travaram
conhecimento com o jovem Beethoven,
então organista principal do eleitor local.
Impressionado pelas cantatas que Beethoven tinha
composto naquele ano de 1790, (por exemplo a
dedicada à morte de José II), Haydn ofereceu-se
para lhe dar lições quando do seu regresso,
promessa que cumpriu, apesar de não terem fácil
entendimento. Mais tarde, em dia de ano novo de
1791, Haydn e Solomon embarcaram e Calais
rumo a Dover. Tendo partido de Viena, 17 dias
depois estavam em Londres. Haydn
impressionou-se com a vastidão e o barulho de
Londres, sobretudo comparando os tranquilos anos
de recolhimento no palácio de Esterházy. Até
mesmo a vida musical da cidade foi uma autêntica
surpresa. Londres contava com a riqueza dos
prósperos teatros comerciais, onde se
representavam óperas e concertos. Dispunha
também de numerosas sociedades musicais que
organizavam as suas próprias temporadas de
concertos, do género daqueles que Solomon tinham
em mente para apresentar a música de Haydn ao
público britânico. A
fama e o prestígio de tinham precedido a chegada
de Haydn, que muito rapidamente se transformou no
artista preferido dos londrinos, homenageado em
ceias e bailes. Tinha contudo, muito trabalho.
Compor novas sinfonias e outras peças para
apresentar. O contrato obrigava-o à composição
e direcção de obras, obrigando-o a mudar-se do
seu alojamento no elegante e agitado bairro de
Soho, para a tranquila propriedade rural em
Marylebone. O
seu primeiro concerto, dirigindo a orquestra de
Salomon sentado ao piano, o que era usual na
época, deu-se a 11 de Março de 1791, nas famosas
Hanover Square Rooms de Londres. Iniciava-se
então uma brilhante temporada de concertos, como
fica descrito na crítica musical do erudito
musical inglês Charles Burney, «A visão do
afamado compositor electrizou a audiência e
despertou tanto ou tão pouco entusiasmo que quase
se tornou em delírio». Durante
a temporada em Inglaterra, Haydn viajou muito. Fez
a viagem fluvial de Westminster Bridge até ao
Richmond rural, visitou o castelo de Windsor e
frequentou as corridas de cavalos de Ascot. Esteve
também em Oxford para receber uma condecoração.
Visitou ainda Cambridge, onde a beleza da capela
do King's College o impressionou
profundamente. Devido
a uma segunda temporada extremamente bem sucedida
de concertos em Londres, Haydn regressou a Viena
em Junho de 1792, a pedido do seu mecenas. A sua
estada de ano e meio em Inglaterra fora ensombrada
pela notícia da morte do seu querido amigo Mozart,
em Dezembro de 1791. Após uma visita triunfal,
não foi de estranhar que Haydn voltasse a ser
convidado a ir para Inglaterra. Quando iniciou a
viagem, em Janeiro de 1794, a França era
governada por Napoleão, que pouco tempo demorou a
declarar guerra à Inglaterra. Apesar do perigo,
Haydn conseguiu chegar são e salvo a Londres, no
início do mês seguinte. Nesta visita, como seria
de esperar, obteve mais êxitos, que da primeira
vez. Num
brilhante sarau em Carlton House, Haydn exibiu-se
perante o rei Jorge III, príncipe de Gales Após
diversas deslocações pelo país, incluindo o
contacto com a guerra com os franceses, Haydn
conseguiu aos 63 anos de idade, regressar a Viena,
a pedido do seu entretanto novo mecenas, o
príncipe Nicholas, filho do príncipe Paul Anton.
Nasceram entretanto algumas das suas melhores
obras, como por exemplo a Criação. Contudo, foi
mesmo em Inglaterra que obteve os pontos
culminantes da sua longa e ilustre vida. |